domingo, 8 de outubro de 2017

ARTUR NOGUEIRA FALA DE SUA CARREIRA, SEUS DISCOS E LANÇA "REI NINGUÉM". O APERITIVO DO CÍRIO, ÀS 2 DA TARDE



O artista paraense no estúdio da Rádio Sintonia, com o produtor Marcelo Souza
 



O programa "Vozes do Pará" dá um aperitivo do Círio de Nazaré aos seus ouvintes e apresenta, a partir das 2 da tarde deste domingo, uma entrevista com o cantor e compositor paraense Arthur Nogueira, hoje radicado em São Paulo, que está em Belém, visitando familiares e aproveitando para rever a terrinha, os amigos e fãs que admiram seu trabalho. 


Em entrevista ao produtor e apresentador do programa, Marcelo Souza, ele fala de sua carreira e sobre o lançamento de seu disco "Rei Ninguém". Um papo musical que vale a pena curtir.


Veja aqui as informações sobre o disco. Em ‘Rei Ninguém’, patrocinado pela Natura Musical a partir da Lei Semear, e lançado em parceria com o selo Joia Moderna, Arthur Nogueira inaugura novo momento da carreira, ao deixar de lado a eletrônica de discos como “Presente” (2016) e “Sem medo nem esperança” (2015) e se lançar numa sonoridade mais orgânica. 

Nas letras, abre novos universos poéticos, com canções com versos de Eucanaã Ferraz e Rose Ausländer (poeta de língua alemã e origem judaica), referências a Ferreira Gullar e Waly Salomão — além de duas novas canções com o parceiro constante Antonio Cicero, “A hora certa” e “Consegui” (cantada num dueto arrebatador com Fafá de Belém) por Leonardo Lichote. O canto calmo de Arthur Nogueira nos recebe em “Rei Ninguém” com o verso “Vi o amor dobrar a esquina/ Ele nunca esteve tão perto”. 

Com a mesma calma, ele nos deixa no fim do álbum com a constatação de que “Agora, é tarde demais pra nós”. Não há uma mudança de perspectiva — do otimismo ao pessimismo, da alegria à tristeza, da esperança ao cinismo — no caminho entre a primeira e a última faixa. 

Pelo contrário, o disco é atravessado pela mesma perspectiva: a consciência tranquila de que o fim (do amor, da felicidade, da juventude) não desmente a plenitude (do amor, da felicidade, da juventude), e sim a reafirma. Nas canções do disco, tudo se desfaz, tudo se refaz — e se desfaz, e se refaz.

Algo que está claro já na faixa de abertura — “Vou ficar tão só se você se for”, versão de Arthur e Erick Monteiro Moraes para “You’re gonna make me lonesome when you go”, de Bob Dylan.

Se “Vou ficar tão só se você se for” carrega o brilho no olho que vê o amor dobrando a esquina, ela também carrega a certeza: “Eu sei, você vai me deixar”. A volta no parafuso do fim-recomeço se dá nos versos seguintes: “Mas vou lhe buscar no azul/ De leste a oeste/ De norte a sul/ Onde o céu encontra o mar/ Ou no olhar de um novo amor”.

O álbum também marca um lugar de fim-recomeço na carreira de Arthur. Quarto disco do artista paraense, “Rei Ninguém” traz em primeiro plano a relação de Arthur com o rigor e a profundidade da palavra poética, que o acompanha desde o início de seu trabalho — sobretudo pela parceria com Antonio Cicero, com quem fez, entre outras, “Sem medo nem esperança” (lançada por Gal Costa), e a quem dedicou um álbum, “Presente” (2016). 

Em “Rei ninguém”, Cicero e Arthur assinam mais duas juntos, “Consegui” (que traz participação de Fafá de Belém) e “A hora certa”. Agora, porém, Arthur abre como nunca um leque que aponta, talvez, para seus próximos movimentos — Ferreira Gullar, Eucanaã Ferraz, Rose Ausländer (poeta de língua alemã e origem judaica), Dylan (poeta agora referendado pelo Nobel), Waly Salomão (a quem é dedicada “Consegui”).

O signo do fim-recomeço fica ainda mais claramente definido na sonoridade do álbum — produzido por Arthur, com arranjos coletivos dos músicos Allen Alencar (guitarra), Filipe Massumi (violoncelo), João Paulo Deogracias (baixo e sintetizadores), Richard Ribeiro (bateria e percussão) e Zé Manoel (piano e teclado).

Em “Rei Ninguém”, Arthur se afasta da trilha eletrônica que vinha traçando em seus últimos discos, “Sem medo nem esperança” (2015) e “Presente” (2016).

Desta vez, ele se lança num mergulho orgânico — o disco foi gravado ao vivo, em dois dias, dentro do período de imersão de uma semana, no qual ele e a banda construíram a arquitetura que se ouve ali. 

As referências que surgiam nesse processo — algumas reconhecíveis, outras subterrâneas, sob a unidade e identidade que eles conseguiram imprimir ao álbum — vão de Tom Waits a Fagner, de Buena Vista Social Club a Cassiano, de Beatles a Nick Drake. 

Arthur divide o álbum em quatro partes — ou capítulos, como ele chama. O primeiro, aberto por “Vou ficar tão só se você se for”, segue com “Moonlight”, parceria com Zé Manoel, impactada pelo filme homônimo. 

Novamente, ela traz o fim (“De repente já não havia azuis”) e seu além (o “amor aprisionado em coisas gratas”). “De repente”, letra de Arthur sobre a envolvente melodia pop do compositor paraense Pratagy, ensina: “Não peça que eu fique/ Tardes e tardes se vão/ Assim como a noite vem”.

O segundo capítulo trata da negação da transcendência — as coisas se encerram nelas, é o que se afirma ali — e a beleza que se depreende daí. Esse momento é aberto por “Papel tesoura e cola”, poema de Eucanaã musicado por Arthur, a mais bela e contundente do disco. 

O desafio de dar melodia fluida a um texto com ritmo de prosa é lindamente vencido pelo paraense na canção, que procura dimensionar drama e beleza, pessoal e universal, relativo e absoluto (“Pensar em mim e em você me pareceu avareza, tendo em vista que nós somos bem menores vistos do Alto da Boa Vista”). Arthur assina sozinho “Era só você”, que visita a mesma consciência (“A beira da praia/ Lá no Marahu/ Permanece onde está/ Sem memória/ Ou lugar/ Para nós”). 

Parceria de Arthur com o mineiro Luiz Gabriel Lopes (do Graveola), “Lume” bebe da poética de Gullar (seu poema “Vendo a noite” é declamado pelo cantor na faixa) para tratar das “coisas já perdidas, vivas no esquecimento” que existem “por trás do céu, bem além do mar”. 

Céu, mar, sol, aliás, são imagens que se repetem no disco — como marcos do absoluto que servem de farol às coisas perdidas (outra palavra frequente no disco).

O terceiro capítulo traz a força da presença feminina em meio a um álbum essencialmente masculino, pelas figuras de Rose Ausländer em “Ninguém” (feita por Arthur e Erick Monteiro Moraes a partir do poema “Niemand”, dela) e de Fafá de Belém, que divide com o cantor os vocais de “Consegui”. 

Esta um irresistível flerte com o brega de Belém, com versos de Cicero que, nas palavras do próprio, “parecem as coisas de Waly” — “Meu corpo minha cabeça meu livro meu disco/ Meu pânico meu tônico/ Meu endereço/ Eletrônico/ Meu número meu nome meu endereço/ Físico/ (...)/ Juntei tudo/ Em ti”.

A volta ao berço paraense de Arthur em “Consegui” dialoga com a desterritorialização de “Ninguém”, cujo personagem central, que dá nome ao álbum, é assumido pelo cantor nesse momento de fim-recomeço (“Ninguém suspeita/Que eu seja um rei/ E no bolso traga/ Minha terra apátrida”).

Por fim, o quarto capítulo celebra as coisas (“tão raras”, como canta Arthur em “A hora certa”, outra dele com Cicero) que acabam quando tem que acabar — não se alongam em “estado de decomposição” nem “se enterram bem antes de acabadas”. 
“Pra nós”, composta apenas por Arthur, conclui com a sabedoria de que “É tudo uma questão/ De tempo/ E é sempre/ Aqui”. Como o “rosto lindo no metrô”, que passou — imagem que Arthur pega de Proust e filtra, no presente, pelo flerte que experimenta nos trens subterrâneos em São Paulo, onde mora hoje.
       
Sobre Arthur Nogueira

Com apenas 29 anos, Arthur Nogueira tem trajetória remarcável. Gravado por Gal Costa e Cida Moreira, e recém cantado por Ana Carolina, Arthur Nogueira foi apontado pelo jornal O Globo como um dos nomes centrais na renovação da tradição dos poetas na canção brasileira.

Seu álbum de estreia, “Mundano”, produzido por Felipe Cordeiro, foi lançado em 2009, pelo tradicional Projeto Pixinguinha, incluindo a releitura de “Mal Secreto”, de Jards Macalé e Waly Salomão. Com o segundo, “Sem Medo Nem Esperança”, de 2015, que reuniu parcerias de Arthur Nogueira com Antonio Cicero, Omar Salomão, Letícia Novaes, Marina Wisnik e Marcelo Segreto, Arthur concorreu a Melhor Cantor no Prêmio Quem 2015, da revista Quem Acontece (Ed. Globo).

Em 2016, lançou “Presente (Antonio Cicero 70)”, projeto idealizado pela gravadora Joia Moderna para comemorar os 70 anos do poeta carioca Antonio Cicero. Em 2017, Arthur lança “Rei Ninguém”, com patrocnio da Natura Musical e lançamento em parceria como selo Joia Moderna.

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